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Poder de compra e poder de escolha

Poder de compra e poder de escolha

Uma mudança necessária para um consumo consciente e responsável.

Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis é um dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), propostos pela ONU em 2015. A ODS número 12Consumo e Produção Responsáveis – é um dos que mais possibilita atuação individual, sem ter que esperar por ações coletivas, envolvimento de órgãos governamentais e/ou projetos sociais. Afinal, somos todos cidadãos consumidores (Objetivos Desenvolvimento Sustentável – Consumo Consciente, ONU; 2016).

Não é novidade que o consumo excessivo é um dos principais obstáculos para o desenvolvimento sustentável. Mas não se engane, essa não é uma realidade em escala global. Somente as regiões “privilegiadas” do globo sofrem com as problemáticas de consumo, afinal, são 836 milhões de pessoas que ainda vivem na pobreza extrema nesse mesmo planeta tão rico e diverso (Objetivos Desenvolvimento Sustentável – Pobreza Extrema ONU; 2016).

Falar de consumo, seja sustentável ou não, não é possível sem abordar a desigualdade social. Atualmente 1 em cada 5 pessoas nos países em vias de desenvolvimento vive com menos de 1,25 dólares diários, ao mesmo tempo que, em 2017, oito pessoas possuem a mesma riqueza que a metade da população. Essa economia global, que nos proporciona tanta tecnologia, manufatura barata e homogeneidade de estilos, pode estar trabalhando a favor desse 1% da população mundial (Objetivos Desenvolvimento Sustentável – Desigualdade, ONU; 2016).

É tudo uma questão de ponto de vista, de perspectiva. Encarar essa realidade tão disparata não é uma tarefa digestiva, especialmente para aqueles seres humanos mais empáticos e sensíveis. É por isso que, me incluindo nesse grupo, uso dessa sensibilidade para pensar nessas pessoas que compõem essas estatísticas na hora de fazer uso dos recursos, sejam eles água, energia elétrica, poder de compra ou poder de escolha – sim, escolha, pois essas 836 milhões de pessoas não os possuem. O poder de escolha é uma das chaves para transformar o sentido das forças de mercado de um mundo que visa primordialmente o lucro (desse 1%) e a exploração de recursos, para um mundo que respeite o meio ambiente e o bem-estar de cada pessoa envolvida no processo de produção.

Em resumo, a ODS 12 defende padrões de consumo e de produção conscientes que provoquem uma melhora no bem-estar das atividades econômicas por meio da redução do uso dos recursos, da degradação e da contaminação ambiental, gerando, ao mesmo tempo, qualidade de vida.

Agora, adequando esse discurso à nossa língua de consumidores, o que seria, então, um consumo sustentável?

Um consumidor responsável, que atua para o consumo sustentável, é aquele que não ignora o fato de que os recursos são finitos e age de forma engajada para uma melhora da qualidade de vida coletiva e individual. Nesse universo do consumo consciente, uma forte tendência mundial é o consumo colaborativo, que consiste em obter acesso aos bens e serviços, sem a necessidade de posse dos mesmos.

Seguindo essa otimista tendência, na encantadora cidade de Florianópolis, também conhecida como Ilha da Magia, uma artista plástica e moradora da ilha, comprometida com a cultura do cuidado e confiante em um futuro sustentável, por iniciativa própria e voluntária, criou o inspirador projeto Armário Coletivo“.

O “Armário Coletivo” nasceu da simples necessidade de Carina Zagonel em doar os tênis do filho, que estavam em ótimo estado, perfeitos para proteger o andar de outra criança. Em 2015, Carina resolveu então, deixar os tênis na esquina da sua casa junto à uma plaquinha provocativa, que dizia: “Deixe aqui o que não quer mais, mas pode servir para outros”. Esse pequeno ato gerou um resultado inesperado, e, em poucos dias, surgiu ali uma quantidade de coisas para serem compartilhadas. O princípio do projeto é o do reaproveitamento, tudo que possa ter um uso para outras pessoas, desde roupas e sapatos até livros, material escolar e mudinhas de planta.

De 2015 até aqui, o projeto cresceu exponencialmente, estando presente em diferentes bairros da cidade e em locais privados, como centros empresariais e universidades. O projeto já influenciou iniciativas semelhantes em outras cidades do Brasil, e em breve estará influenciando para um consumo consciente no exterior. Até o momento foram, por meio de 7 armários espalhados pela cidade de Florianópolis, compartilhados 15 mil materiais, dentre os bens compartilhados estão mudas de plantas, peças de roupa, livros, revistas e brinquedos. E o número de consumidores que hoje repensam seu poder de escolha e seu papel para um consumo responsável é inestimado, mas absolutamente expressivo (Armário Coletivo; 2017).

O ensinamento que fica é o da consciência. Primeiro é necessário entender o porquê da importância da mudança de atitude, é importante olhar para o lado e ver que o nosso excesso, muitas vezes, supre a falta do outro. Há que se despertar para o cuidado e, por que não, para o amor ao próximo. Há que se priorizar o local, o artesanal e perguntar, sempre, qual é a sua real necessidade de consumo. Dessa forma, o consumo responsável e sustentável terá lugar na realidade daqueles que não fecham os olhos para um planeta em agonia.

Andréia Simas Carvalho

Andréia Simas Carvalho
Profesional en Relaciones Internacionales – Universidade do Sul de Santa Catarina
Secretaria Geral Fundação Aquarela Bogotá

 

 

 


Fontes:

Armário Coletivo, 2017.
Objetivos Desenvolvimento Sustentável , Pobreza Extrema, ONU, 2016.
Objetivos Desenvolvimento Sustentável , Desigualdade, ONU, 2016.
Objetivos Desenvolvimento Sustentável , Consumo Sustentável, ONU, 2016
Nosso objetivo é desenvolver e apoiar projetos que contribuam na construção de um mundo melhor, através da formação de uma sociedade mais igualitária, promovendo a transformação social e humana por meio de ações que atuem na ascensão do desenvolvimento individual e coletivo com justiça social, na melhoria das condições de vida e a defesa da Cidadania e dos direitos, no respeito à pluralidade, na igualdade de oportunidades e a inclusão social.

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