Você já ouviu falar sobre os Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODM) ou sobre sobre os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) ? Sabe como eles impactam na sua vida?
Em uma apresentação de artigo em um evento sobre estratégias de implementação dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Universidade Metropolitana de Manchester (Inglaterra), em abril deste ano, tive uma surpresa no momento em que a mediadora da mesa pediu a palavra e perguntou em uma sala de aproximadamente 20 pessoas, quem ali já tinha ouvido falar ou lido algo sobre os Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODM). A maior surpresa foi quando apenas 4 pessoas levantaram a mão. Logo em seguida a mediadora perguntou quem já havia lido ou ouvido falar algo sobre os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), e com unanimidade todas as pessoas da sala os braços levantaram.
Na primeira pergunta a minha conclusão foi: essas pessoas nunca estudaram nada sobre desenvolvimento humano. Na segunda pergunta uma conclusão que mudou minha visão sobre os ODS: a maioria daquela sala deveria ser de países desenvolvidos. A partir daquele momento notei que o mundo finalmente tinha proposto uma agenda que valesse para todos os países. Uma agenda que abraçasse diversas causas em diferentes níveis.
Desde a década de 90 o mundo passou a definir agendas que visavam uma melhora nas condições humanas. Uma das agendas implementadas pra Organização da Nações Unidas (ONU), a Declaração do Milênio, foi a base para os ODM. A fim de atingir as metas do milênio, os países em desenvolvimento passaram a implementar políticas públicas em prol do desenvolvimento humano. Passado 15 anos da implementação dos ODM esse projeto é considerado um sucesso pela ONU, mais ainda por alguns países que tiveram uma generosa melhora na condição humana, dentre eles o Brasil. Entretanto, apesar das conquistas o mundo necessitava e aspirava por mais. Nem tão novos desafios, mas novas soluções. Finalmente o mundo pode olhar pro Desenvolvimento Sustentável a partir da ótica a que realmente veio: proteger as gerações futuras em todos os níveis: social, econômico e ambiental.
Nos dias de hoje se você ousar perguntar a um leigo o que é desenvolvimento sustentável, ele provavelmente, sem culpa, responderá algo relacionado ao meio ambiente. A resposta não está errada, mas incompleta. Por anos o conceito de desenvolvimento sustentável não teve seu potencial explorado pela ONU. Isso fica claro quando analisamos o ODM, em que aborda sustentabilidade apenas no 7o objetivo, denominado qualidade de vida e respeito ao meio ambiente, e está voltado apenas para a questão ambiental, com indicadores ligados ao desmatamento, poluição das águas, emissões dos gases do efeito estufa e mudanças climáticas. Fica mais claro ainda quando diversas organizações do mundo passam a explorar a imagem do urso polar ou desflorestamento, ligando mudanças climáticas e desenvolvimento sustentável, aparentemente não levando em conta todo uma outra realidade por de trás disso, e que envolve não apenas questões relacionadas ao meio ambiente, mas, também, a corrupção, o sexíssismos, o desemprego e a fome, por exemplo.
Os ODS surgem como a consolidação integral do conceito de desenvolvimento sustentável. Como a continuação dos ODM, os ODS abordam a questão da fome, pobreza, educação, saúde, igualdade, cooperação internacional, tendo uma ligação clara com o desenvolvimento humano. Já nas novas janelas de desenvolvimento, ele aborda questões como indústria, corrupção, biodiversidade, tecnologia, mudanças climáticas e direitos humanos. Por fim, é estabelecer que o desenvolvimento sustentável não é apenas os problemas que o mundo já enfrenta com as mudanças climáticas, mas sim, os problemas que ameaçam o equilíbrio e a manutenção da raça humana no planeta Terra, e que envolve diferentes setores, e não apenas os grandes poluidores ou desmatadores.
Os impactos de todas essas questões envolvem tantos os países em desenvolvimento, quanto países desenvolvidos, sendo que as consequências da má compreensão destes desafios mundiais vão além dos limites fronteiriços de cada Estado. As crises econômicas, sociais e ambientais recaem principalmente sob as populações mais vulneráveis, aquelas que já estão na periferia dos programas e políticas públicas governamentais. Isso propicia a uma observação importante sobre o desenvolvimento sustentável, que atualmente não temos dado conta das gerações atuais, e muito menos das gerações futuras. A Agenda 2015-2030 é o encaixe das peças que faltavam nesse quebra cabeça que são os desafios globais.
João Marcelo Pereira Ribeiro
João Marcelo Pereira Ribeiro
Mestre em Gestão Estratégica e Desenvolvimento Sustentável. Bacharel em Relações Internacionais. Pesquisador no Projeto BRIDGE