Depois de uma década de progresso lento, mas contínuo, em direção à igualdade de gênero, pela primeira vez o Fórum Econômico Mundial constatou aumento das disparidades entre homens e mulheres no planeta. A informação consta do Relatório de Desigualdade Global de Gênero 2017, divulgado pela organização.
O Brasil caiu para a 90ª posição em ranking do Fórum Econômico Mundial que analisa a igualdade entre homens e mulheres em 144 países. Em 2016, o Brasil ficou no 79º lugar. Em 2015, havia ficado na 85ª posição. Na primeira edição da pesquisa, feita em 2006, o Brasil estava em 67º.
Segundo o relatório Global Gender Gap Report 2017, apesar de igualdade de condições nos indicadores de saúde e educação e de “modestas melhorias” em termos de paridade econômica, as mulheres brasileiras ainda enfrentam acentuada discrepância em representatividade política, o que empurra o índice do Brasil para baixo.
Mais especificamente, as brasileiras sofrem com baixa participação em ministérios e no Legislativo, e salários mais baixos.
No subíndice “Empoderamento Político”, o Brasil caiu da 86ª posição para 110ª. Dos 513 deputados federais, apenas 51 são mulheres (10% do total). No Senado, elas representam 13 das 81 cadeiras (16%). Já no governo do presidente Michel Temer, somente 2 dos 28 ministérios são ocupados por mulheres (7%).
Segundo o relatório, a renda média da mulher corresponde a 58% da recebida pelo homem – mesmo percentual registrado no ano passado. A média salarial em 2017 é estimada em US$ 11.132 (R$ 36.330) para mulheres e US$ 19.260 (R$ 62.860) para homens.
Na saúde e na educação, as brasileiras têm melhores indicadores. Para cada estudante homem do ensino superior brasileiro, elas ocupam 1,4 vaga. Já a expectativa de vida feminina é de 67,8 anos, frente a 63,1 anos da masculina.
O Brasil ficou atrás da Argentina (33º), Colômbia (36º), Peru (48º), Uruguai (56º), Chile (63º) e México (81º). O desempenho do país é o terceiro pior na região que engloba América Latina e Caribe, depois apenas de Paraguai (96º) e Guatemala (110º).
Como destaque positivo no ano, o Brasil foi o único país da América Latina e um dos seis, em meio às 144 nações, a eliminar a desigualdade entre homens e mulheres na área de educação. Em saúde e sobrevivência, a diferença também está próxima do fim.
No que diz respeito à educação, são consideradas a taxa de alfabetização e de matrículas nos ensinos primário e secundário. Na saúde, a análise se dá sobre a razão entre os sexos no nascimento e a expectativa de vida saudável entre eles.
Desigualdade cresce no mundo após 10 anos de avanços
O relatório, que analisa a conjuntura nas áreas de trabalho, educação, saúde e política, mostra que a desigualdade de gênero voltou a crescer no mundo pela primeira vez após uma década de avanços constantes.
O estudo, realizado anualmente desde 2006, aponta que, mantido o ritmo atual, será preciso um século para acabar com a distância global entre homens e mulheres em escala mundial, contra os 83 anos calculados em 2016. Já as diferenças de gênero no local de trabalho persistirão por mais 217 anos, quando no ano passado a previsão era de 170 anos para se atingir este objetivo.
“Em 2017 nós não deveríamos estar vendo o progresso para a paridade de gêneros ter um retrocesso”,
afirmou Saadia Zahidi, chefe de educação, gênero e trabalho do Fórum.
“A igualdade de gênero é um imperativo moral e econômico. Alguns países entenderam isso e agora estão colhendo os dividendos das medidas tomadas para tratar o tema.”
Este retrocesso se explica pelo aumento da diferença entre homens e mulheres nos quatro pilares estudados pelos especialistas.
“As áreas onde as diferenças entre sexos são mais difíceis de superar são economia e saúde”, enquanto “o abismo político entre os sexos é o mais escandaloso…”.
A Islândia se manteve na liderança do ranking de igualdade de gênero, seguida por Noruega e Finlândia.
Entre os países do G20, a França (11ª) ocupa a primeira posição em matéria de igualdade, seguida por Alemanha (12ª), Grã-Bretanha (15ª), Canadá (16ª) e África do Sul (19ª).
Estados Unidos aparece na posição 49ª e China em 100ª.
Entre os 20 mais bem posicionados, há apenas dois representantes latinos: Nicarágua, em 6º lugar, e Bolívia, em 17º lugar.
Oriente Médio e África do Norte são as regiões onde o abismo é maior. Os últimos colocados do ranking são Iêmen, Paquistão, Síria e Chade.
Katiane Vieira
Empresária, escritora, palestrante e presidente do Instituto Nação de Valor
“Acredito que cada um de nós pode ser um instrumento de mudança positiva.”
Fontes:
Fórum Econômico Mundial
G1 Economia