Uma empresa socialmente responsável, isso é, que destina parte do faturamento para instituições sociais, pode apresentar também maior produtividade. Essa foi uma das conclusões de pesquisadores da Universidade de Southampton, no Reino Unido, ao fazerem um experimento com jovens universitários. Ao saber que o desempenho do trabalho poderia garantir doações a entidades, um grupo de alunos que participou da pesquisa rendeu, em média, 13% a mais que os demais.
Os dados mais recentes da pesquisa Benchmarking de Investimento Social Corporativo (BISC), que acompanha anualmente os investimentos sociais privados de 312 empresas e 24 fundações brasileiras, informam que o total de recursos repassados pelas empresas foi o mesmo entre 2014 e 2015: R$ 2,6 bilhões. A proporção dos investimentos com relação ao lucro bruto das companhias, que passou de 0,70%, em 2014, para 0,89% em 2015, coloca o Brasil está um pouco acima do padrão internacional. Nos Estados Unidos, por exemplo, o percentual é de 0,84%.
Entre as principais áreas de destinação dos recursos, está a cultura, que responde por mais de 40% do total investido pelas empresas brasileiras. Em relação ao crescimento, o setor de saúde lidera. Criados em 2012, os programas destinados a pessoas com câncer e com deficiência responderam por 16% do total dos incentivos, ultrapassando o índice referente a idosos, crianças, adolescentes e ao esporte.
O montante dos recursos investidos em educação chegou a R$ 801 milhões. A maior parte (82%) foi aplicada pelos institutos empresariais. Tal resultado, ainda que bastante positivo, representa uma queda de 16% em relação ao total destinado à educação no ano anterior.
Em Santa Catarina, os investimentos em responsabilidade social ainda têm espaço para crescer. Apenas 30% das 2 mil indústrias catarinenses com capacidade para doar recursos destinam uma parcela do imposto de renda para instituições locais.
Fundo social da indústria quer estimular investimento
O diretor de marketing e relacionamento com o mercado da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), Carlos Roberto Farias, estima que o valor investido no Estado poderia alcançar R$ 200 milhões se empresas usassem as leis de dedução fiscal para investir em projetos sociais.
Entre as cidades catarinenses que se destacam por já ter uma cultura de investimentos na área social está Jaraguá do Sul. Empresas como a WEG, Duas Rodas e Marisol estão entre as que já revertem recursos para o setor. Para que outras regiões de Santa Catarina também sigam o mesmo exemplo, uma parceria entre a Fiesc e o Sesi resultou na criação do Fundo Social da Indústria há quatro meses.
A iniciativa, que está na fase piloto, busca mobilizar prefeituras, OAB e conselhos no mapeamento de instituições que atuam em áreas como cultura, esporte, saúde e educação. Com base nesses dados, a Fiesc e o Sesi pretendem incentivar as empresas catarinenses a repassar os recursos para as entidades.
De acordo com a federação, é importante esclarecer de que forma o repasse pode ser feito para garantir o abatimento fiscal. As empresas podem deduzir até 9% do imposto de renda, por meio de várias leis de incentivo. Fica a critério dos empresários escolher uma área social que considerem prioridade para o desenvolvimento da sociedade.
Do percentual de 9%, 4% podem ser repassados via Lei Rouanet, que investe na área cultural; 1% para auxiliar iniciativas de atendimento a doentes de câncer; 1% para fundo pró-pessoas com deficiência; mais 1% para Fundo da criança e do Adolescente; outro 1% para fundo do idoso; e mais 1% em incentivo ao esporte.
De acordo com Farias, diretor de marketing da Fiesc, o número de empresas que investem em responsabilidade social não é maior por falta conhecimento dos empresários sobre as leis de dedução fiscais e sobre como fazer um projeto.
— Em vez de ir para Receita Federal, para Brasília, esses recursos poderiam ficar aqui em Santa Catarina, sendo investidos em creches, projetos para crianças e adolescentes, cultura, nas nossas cidades. O investimento tem que ser na região, na cidade onde a própria empresa está sediada — defende o diretor.
Instituto conecta empresas e projetos
O Instituto Phi, com sede no Rio de Janeiro e filial em São Paulo, ajuda empresas que precisam de um pontapé inicial para começar a investir no terceiro setor. Em linhas gerais, a associação sem fins lucrativos faz a ponte entre doadores, que podem ser pessoas físicas ou jurídicas, e projetos sociais de referência no país.
Em três anos, o Instituto já mobilizou quase R$ 11 milhões para 206 projetos selecionados. Antes de receberem a doação, repassada mensalmente, as entidades são visitadas pela equipe do Instituto Phi e passam por uma rigorosa avaliação baseada em quatro pilares: transparência, qualidade de gestão, potencial de impacto e solidez.
Para que o investimento não seja interrompido, o responsável pelo projeto social precisa apresentar mensalmente relatórios com prestação de contas. Os investidores têm acesso a todos os dados e podem escolher como querem se relacionar com a instituição – se anonimamente ou com participação ativa.
— A maioria de nossas empresas doa via leis de incentivo, o que, pela nossa experiência diária, mostra-se uma forma mais simples de cativar inicialmente o investidor, visto que ele não precisa desembolsar nada. Acredito que este seja também o cenário brasileiro: as leis de incentivo detém a maioria do investimento social privado, uma vez que não têm custo — explica a diretora-executiva do Instituto Phi, Luiza Serpa.
Pedra Branca investe na cultura e no esporte
Entre as empresas catarinenses, a Cidade Criativa Pedra Branca, do ramo de empreendimentos imobiliários, é um exemplo de pessoa jurídica que elegeu a questão social como prioridade. Valério Gomes e Marcelo Gomes, sócios do projeto, investem em ações culturais e esportivas por meio de projetos de dedução fiscal como a Lei Rouanet e a Lei de Incentivo ao Esporte.
O Natal Encantado é um dos projetos apoiados pelos empreendedores por meio da Lei Rouanet. A instituição trabalha com o desenvolvimento cultural local e o contato do público com espetáculos urbanos e gratuitos. Já na área de inovação e tecnologia, a Cidade Criativa Pedra Branca patrocina o Social Good Brasil Lab (SBG Lab), pelo segundo ano consecutivo.
O SGB Lab funciona como uma pré-aceleração de ideias de diferentes estágios para pessoas que querem empreender criando iniciativas que buscam solucionar problemas sociais. A edição de 2017 já começou e contará com encontros presenciais a partir de junho. Os futuros empreendedores terão 96 horas de imersão com metodologias inovadoras como Design Thinking, Startup Enxuta e Modelo de Negócio Canvas, na Cidade Pedra Branca, em Palhoça.
Para Marcelo, diretor- executivo da Cidade Criativa Pedra Branca, ainda falta informação sobre as leis de incentivo federais, estaduais e municipais, mas os empresários devem correr atrás de projetos para apoiar:
— O investimento em ações sociais são essenciais no desenvolvimento urbano, de forma coletiva, criativa e colaborativa. Acreditamos que a cultura, o esporte e a inovação são elementos importantes para o crescimento das cidades. Além disso, a aproximação entre a academia e as empresas deve ser incentivada e a elaboração de projetos inspiradores deve ser estimulada, afirma o empresário.
NSC DC
Por | Juliana Gomes